Pois que, aos 40 anos, vejo-me a necessitar de contactar pela primeira vez com um par de muletas - para que conste, são de marca Orthos XXI, classe 4. Dores? Não sei o que isso é, mas avisaram-me que não tomasse essa situação como uma permissa para começar a andar de pé no chão. E eu, que sou uma menina muito obediente - nestas coisas sou um bocado maricas, pronto! - tenho feito tudo de muletas ou ao pé cochinho. Serve este post para vos dar conta do que faço/como faço com um pé às costas.
- subir e descer escadas - foi o primeiro grande obstáculo, mas que resolvi em tempo recorde, para aí uns 5 segundos depois de estar a olhar para as ditas. Desço-as e subo-as da mesma maneira, de rabo, ou seja, sentando-me degrau a degrau e fazendo impulsão com os braços e a perna boa. É uma limpeza e uma coisa bonita de se ver!
- casa de banho - ao pé cochinho ou de muletas, sentando-me no rebordo da banheira, sanita ou bidé, consigo fazer tudo lá dentro. Tomo banho e trato de mim, trato da higiene matinal da Laura - o banho é dado pelo pai, à noite - e até lavo a própria casa de banho;
- cozinha - ora bem, a minha cozinha é pequena - temos uma sala anexa com mesa de refeições e loiceiro -, e ainda bem que é pequena! Tenho na cozinha uma espécie de caldeirão gigante para reciclagem que tem dentro os recipientes das três cores, mas que é apenas um caldeirão com tampa. É bastante mais alto que qualquer cadeira. Como a cozinha é pequena, consigo chegar a todo o lado sentada no dito cujo. Arrasto-o para onde quero e chego ao fogão, ao frigorífico, ao lava loiças, enfim, chego a todo o lado. Isso tem-me permitido lavar loiça, ajudar na preparação no jantar e até fazer o jantar - fico encarregue do controle da comida que está no fogão;
- o marido - é o meu pé direito. Tem sido fantástico em tudo. Cozinha, limpa, trata da Laura, põe roupa na máquina, põe roupa a secar, só não a passa porque a minha mãe a entrega à senhora que passa a dela. Às vezes dou por mim a pensar que esta situação seria caótica noutras casas que eu conheço, mas aqui não, reina a arrumação e a calma de sempre. Parece que não se passa nada...
- a filhota - dá muitos mimos à mamã. Quer dar beijinhos no pé, o que eu não permito, claro! Fica-se pelas festinhas ao de leve - muito ao de leve! Tem noção que a mãe não pode fazer muitas coisas e colabora na medida dos possíveis - faz-me recados, vai-me buscar isto ou aquilo, arruma os brinquedos, vai sozinha à casa de banho quando estamos só as duas, veste-se/despe-se/calça-se sozinha de manhã, enfim, já tem um grau de autonimia que a faz resolver muitas coisas sozinha.
Ah... uma palavra de louvor aos meus pais, que moram mesmo aqui ao lado. Vão levar a Laura à escola e trazem-na à tarde, para além de ir lá a casa almoçar. A presença deles tão perto faz toda a diferença - estão à distância de uma chamada telefónica!
E pronto. Tem sido assim e assim será durante mais uma semana - consulta no dia 7, só!
:o))
A festa mais alargada conteceu como estava previsto. Situações que nos ultrapassam impediram a comparência de pessoas que eu queria muito ter por perto, mas o almoço de sábado correu muito bem. Depois ainda houve uma passeata conjunta até ao fantástico Jardim das Caldas da Rainha, ensombrada pelo tempo que ficou subitamente cinzento e chuvoso. Mais cinco minutos e era literalmente apanhada no meio de um dilúvio... de muletas! ehehehe A retirada estratégica foi na hora H!
No meio do pessoal, dos parabéns, do brinde, das prendinhas e dos miminhos à esquerda e à direita, dei-me conta da sorte que tenho por me ver rodeada por familiares e amigos nesta data tão especial. Aos 40 anos posso seguramente dizer que a vida me sorri, prometendo-me ainda muitos momentos de convívio, alegria e, porque não, alguma loucura. Sim, porque ainda tenho de "providenciar" a prenda de aniversário que prometi a mim mesma. É já a seguir, assim que me livrar do raio das muletas...
Jantar do dia 26 de Maio, cortesia da minha mãe
Almoço de sábado
:o))
... pelas manifestações de carinho aqui, ali e um pouco por todo o lado! Ajudaram a diminuir o "peso" das (malditas) muletas!
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40 anos! Cheguei lá, à barreira invisível que marca a entrada na suposta"meia-idade". Credo, não me sinto nada assim! Não fosse o raio do entorse que me fragiliza de momento e diria que nunca me senti tão jovem. Sempre fui uma jovem "velha". Descobri os prazeres da vida mais tarde, contrariando a ordem natural do nosso crescimento enquanto pessoas, daí este desfazamento. Sinto-me mesmo bem, no alto dos meus 40 anos!
Neste dia especial, quero pedir-vos que não desperdicem o vosso tempo com ninharias, cada segundo deve ser vivido intensamente. Não neguem manifestações de carinho nem deixem de demonstrar apreço pelas pessoas que vos são queridas. Temos a vida como certa e isso faz-nos desvalorizá-la ao ponto de apenas nos arrastarmos nela... Não façam isso! No dia em que faço 40 anos grito alto e bom som - VIVAM!
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Vou fazer 40 anos e a festa mantém-se como previsto. Acabei de encomendar o bolo de aniverário para sábado. Por acaso tinha vontade de brincar com as muletas e fazer uma piada alusiva, mas a menina do outro lado sussurrou um Talvez não seja de muito bom gosto! que me deu vontade de rir. A doceira é a mesma que tem confeccionado todos os bolos de aniversário da Laura e já me tem para a troca. Acabei por optar pela ideia inicial, mas que tinha vontade, tinha...
:o))
É qu´isto aconteceu na pior altura possível. Ora vejam:
- esta sábado tive de cancelar a aquisição do meu presente e adiá-la para dia indeterminado;
- este domingo não comparecemos aos anos do meu sobrinho Simão;
- dia 26 de Maio faço 40 anos e nem um jantar posso oferecer aos meus pais e irmão;
- a festança do meu aniversário está marcada para sábado e vai realizar-se. Claro que eu vou... de muletas!
- no domingo tinha os anos da doce Leonor - já não tenho!
- no dia 4 de Junho tinha o casamento do Miguel... já não tenho!
Em termos de trabalho, basta dizer que esta é só a altura mais movimentada do ano, entre testes e avaliações finais... Estou deslolada.
:o((
... no tornozelo direito, depois de uma mau jeito dado a descer umas escadas enquanto ensaiava os meus alunos no Auditório Municipal no âmbito da disciplina de Oficina de Teatro - ensaio geral antes do espectáculo da próxima quarta-feira. Até à consulta de 7 de Junho recomenda-se repouso, medicação e... muletas. Estou a ver a minha vida a andar para trás...
:o(
... no carro, a caminho da escola:
- Mãe, há alguma festa hoje?
- Festa? Não! Porquê?
- Eu hoje estão tão vaidosa que queria ter uma festa.
- Hein?!
- Sim, estou tão vaidosa que queria que os meus amigos me vissem assim numa festa muito importante!
:o))
Nota da mãe que pode-ajudar-a-esclarecer-a-coisa-ou-talvez-não - levava um vestido que enfeitou com um colar muito colorido e uma pulseira igual. A completar a fatiota levava os sapatinhos de bailarina - vulgo, sabrinas!
Aviso à navegação - que ninguém se atreva a gozar com o que vai ler, não foi nada bonito!
Em plena aula, sem que tenha feito algum gesto mais "violento" que o justificasse, as minhas calças de ganga cederam... no rabo... um grande rasgo ao lado da costura. Eu, que por acaso até fui de camisa curta e com o dito a ver-se em todo o seu esplendor, disfarcei a coisa - os miúdos não se aperceberam -, sai de fininho da sala, atravessei não sei bem como aqueles corredores intermináveis com a pasta a tapar o rasgo, informei a funcionária do incidente - o que rimos as duas! - e vim-me embora depressa! Podia ter remediado a situação? Podia, mas não me apeteceu! Ter as calças rotas e agir como se nada fosse não é bem a minha praia. Hoje o dia de trabalho acabou 90 minutos mais cedo...
:o))
Já! Parece que foi ontem que escrevi o primeiro post e já lá vão 4 anos... Tem sido uma aventura deliciosa esta "coisa" dos blogs e afins. Como leitora, enquanto autora, tenho aprendido imenso e os ganhos são mais que muitos. Já não passo sem espreitar, sem escrever qualquer coisa quase diariamente, sem fazer um preâmbulo por blogs que também já fazem parte da minha vida. É que o bichinho chegou, entrou e instalou-se! E se ter leitores nunca foi uma ambição - sempre pretendi escrever mais para mim que para os outros -, vejo-me agora rodeada de palavras de carinho e apreço a cada post publicado... Um obrigada especial a todos quantos me lêem, comentando ou não. É um prazer ter-vos desse lado...
(foto removida)
:o))