Desde cedo que a Laura já dá mostras de ser muito sensível e atenta a situações mais dramáticas. Lembram-se da canção do Marco? Depois, há cenas mais tristes em filmes que a levam às lágrimas, mas o que aconteceu ontem...
Pediu-me para visonar um filme de desenhos animados inspirado no clássico "A Vendedora de fósforos" - trata-se de um conjunto de clássicos, ainda em cassetes VHS, que a tia Paula emprestou. É um enredo triste que eu conhecia mais ou menos, mas que não considerei nocivo para a Laura, pelo contrário, pensei que poderia alertá-la para o facto de existirem crianças com muitas dificuldades na luta do dia-a-dia. Deixei-a a ver o filme e fui preparar o jantar. A história não demorou mais de 15 minutos. De vez em quando ia espreitá-la, mas nunca lhe disse nada por senti-la tão entretida e atenta. No final, quando calculei que o filme estivesse a acabar, dirigi-me a ela e deparei-me com uma Laura enroscadinha sobre si mesma, no sofá, a chorar silenciosamente. As lágrimas escorriam-lhe e soluçava compulsivamente, mas quase sem fazer barulho, como se estivesse e reter aquilo nela. Quando me viu, agarrou-se a mim com todas as forças e deixou de pôr travou nas emoções - que a menina era pobrezinha e não tinha nada para comer, que não tinha pais, que ninguém lhe ligava quando andava a vender fósforos, que tinha muito frio, que tinha ido viver com os anjinhos... Raistapartisse, - pensei para mim -, mas esta história não tinha um final feliz?! Aparentemente não... Estivemos assim algum tempo, ela a chorar de forma violenta e quase descontrolada enquanto contava a história, eu a abraçá-la, já de lágrimas nos olhos, tentando acalmar aquele coração que senti muito magoado. Foi aflitivo ver a desolação dela e sentir aquela tristeza. Foi difícil explicar-lhe que era apenas uma história e que a menina, no céu, reencontrou o pai e a mãe e lá todos os anjinhos lhe compravam os fósforos - como anular aquele final trágico?! Enfim... Acalmou, mas assim que viu o pai voltou a chorar e a relatar tudo... E passámos assim a noite, entre a calmaria da reflexão e a súbita lembrança da menina a vender fósforos, o que levava a novo momento de choro. Senti-a tão perturbada que pensei que fosse assolada por pesadelos, mas passou bem a noite. Hoje de manhã estava bem disposta e não mencionou nada...
Não sei que pensar... Não sei que sentir... Será mais sensato evitar que ela se confronte com estas situações ou ajudá-la a compreender que existem muitas coisas más no mundo, mas que temos de as enfrentar de outra forma, por exemplo, agradecendo e valorizando aquilo que temos? Opiniões, precisam-se!
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