Nada se compara à situação de ouvir uma médica dizer que a nossa filha requer vigilância e que, por isso, é aconselhável o internamento... nada! Até domingo desconhecia este medo, esta impotência, esta fragilidade que se apodera de nós. O esforço para manter a compostura é tremendo, evitar o choro é complicado, mas há que aparentar calma. Consegui-o não sei bem como, nem uma lágrima derramei, mas só eu sei o rebuliço que aqui ia dentro. O mais difícil foi mesmo quando lhe foi dito que iria ficar no hospital e começou a chorar que queria ir para casa... Confortei-a, acalmei-a e acarinhei-a o mais que pude, mas só me apetecia chorar e gritar...
Tudo começou com uma ida às urgências. No sábado teve uma ponta de febre que persistiu no domingo, desta feita aliada a um inchaço na zona da orelha/pescoço. O meu primeiro pensamento foi mesmo para a papeira e não me enganei. Depois de horas intermináveis nas urgências - uma médica apenas para uma sala cheia - e análises ao sangue, foi feito o diagnóstico - Parotidite, vulgo papeira, e Trismus associado. O internamento foi originado por este último que consiste numa constrição intensa das maxilas devida à contractura permanente dos músculos mastigadores, que torna difícil a abertura a boca. O inchaço dos ganglios inspirava algum cuidado e necessitava de vigilância, pelo que demos entrada no final de domingo com a indicação de que ficaria, pelo menos, 48 horas a antibiótico e sob vigilância. Deixei-a a ser instalada com o pai e vim a casa preparar um malote com roupas e artigos de higiene para ambas, sem esquecer alguns brinquedos e livros para ela se entreter durante o internamento. Quando regressei para junto dela encontrei-a bem mais calma e conformada, a comer a sopinha.
O tempo que lá estivemos acabou por passar depressa. Estivemos as duas num quarto só para nós devido ao perigo de contágio. A Laura esteve bem, sempre entretida com as coisinhas dela. Foi muito cooperante com as enfermeiras e as médicas que entravam constantemente no quarto para a examinar ou controlar o soro e a medicação através de uma catéter que lhe foi feito na mão esquerda. Comeu menos mal - a comida, não sendo nada de especial, também não era muito má - e dormiu bem as duas noites. Nunca se queixou de dor, apesar de a estarem sempre a apalpar aqui e ali. O único desconforto era mesmo o catéter, mas até a isso se habituou bem. Quando queria ir à casa de banho iamos com aquela geringonça atrás, qual trela a puxar um cãozinho, o que vale é que a casa de banho ficava mesmo ali, porta com porta.
Eu tive direito a um cadeirão que, à noite, servia de cama - ficava completamente na horizontal. Não fiquei mal, aliás, até uma cadeira servia, eu queria era ficar com ela fosse em que condições fosse. Dormi menos mal as duas noites, apesar do corpo ficar meio dorido... Tomei banho os dois dias na casa de banho destinada aos acompanhantes e orientei-me com a fruta, yogurts e bolachas que levei de casa, para além daquilo que o meu marido me ia trazendo, principalmente sandes e salgados.
Na segunda-feira fez uma ecografia e na terça o inchaço diminuiu drasticamente. À hora de almoço, a médica deu-nos a boa nova - tiveram a reavaliar a evolução do estado da Laura e do inchaço nos ganglios e recomendou alta nesse mesmo instante. Que alívio! Estava certa que só sairíamos na quarta, aliás, sempre nos deram esse prazo, mas terça-feira fomos liberadas.
Agora temos que ficar em casa o resto da semana, o tempo necessário para a papeira passar completamente e poder voltar à escola. Anda aqui à minha volta bem disposta e a pôr-me a sala em alvoroço com as traquitanas dela.O inchaço desapareceu quase completamente e há que tomar o antibiótico religiosamente de 12 em 12 horas até domingo. O susto passou! A ordem está reposta!
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