Acordei com o som da chuva lá fora. Foi com alguma preguiça que deixei o conforto dos lençóis para empreender o caminho costumeiro até à casa de banho. De regresso à cama peguei num bloco e numa caneta, não fosse dar-se o caso de... . Deu-se o caso. Depois de 15 minutos de espertina, decidi-me; acendi a luz, ajeitei-me na cama, preparei o material de escrita e...
O som doce e reconfortante da chuva lá fora sempre me trouxe uma sensação de aconchego e serenidade. Neste caso, embala-me os pensamentos, guia a caneta por entre palavras e emoções. E são tantas, umas e outras...
Olho o corpo que se aninha a meu lado e sorrio... Recordo o percurso até aqui, num breve relance sobre o passado, até este momento exacto em que o som da chuva é uma orquestra superiormente dirigida por uma batuta experiente e exímia. E tudo se conjuga, tudo faz sentido.
A intensidade da intempere cresce. Aconchego-me nos lençóis. 6.06 horas. O meu pensamento deambula por entre as gotas de chuca. Tanta coisa ao mesmo tempo e só uma... Laura... A mala está pronta, ali, num canto do quarto, mas estarei eu pronta? Daqui a alguns dias, no sítio da mala, estará o berço que aguarda transferência do quarto da Laura. No berço estará um bebé, um ser que dependerá de mim em tudo. O papel mais exigente de todos, o mais difícil... estarei à altura?
A chuva continua, intensa, decidida, objectiva... Cai indiferente ao meu tumulto, mas dir-se-ia que tudo nela é resposta. Neste diálogo de mudos, entendemo-nos. Apaziguadora, acalma-me as emoções e dá força às palavras. Sorrio. Eu sei a resposta. A pergunta...simples retórica. A palavra, assustadoramente doce, é-me familiar há 9 meses; já o sou desde então. Mãe. Sim, eu sei a resposta.
O dia está a nascer. Por entre a chuva que insiste em brindar-me, adivinho os primeiros raios de luz. Mais um dia... Laura...
:o)))